Sabemos que a saúde pública neste estado e em todo o país está um caos. O que as pessoas não sabem é que essa situação tem sido induzida há anos, pelos governos que têm o objetivo de sucatear tais serviços para justificar a inserção de empresas privadas na administração daquilo que é de competência dos gestores públicos, custeados pelos recursos captados dos impostos da população, que não são poucos.
Alguns ainda têm a capacidade de atribuir os problemas no setor aos servidores públicos, que jamais deixaram de realizar com extrema responsabilidade suas atividades laborais e que trabalham incansavelmente salvando vidas.
Infelizmente, o Governo deste Estado ignora as deliberações da 14ª Conferência Nacional de Saúde e relatório da 7ª Conferência Estadual de Saúde, que constam pela não aprovação, ou seja, rejeição do chamado “novo modelo de gestão” das unidades públicas de Saúde, por meio de Organizações Sociais (OSS’s), inclusive com Moção de Repúdio aos que o implementaram em Mato Grosso. Ao contrário, o poder público tem feito enorme esforço para manter e fortalecer as OSS’s na gerência da Saúde, mesmo sabendo que elas têm deixado pessoas sem atendimento, à míngua. Mesmo sabendo que elas estão destratando os servidores e, para diminuir os gastos com materiais e insumos, têm deixado faltar água e até material de higiene nas unidades. Pois bem, está muito claro que há inúmeros interesses por traz desse modelo que é, na prática, a privatização daquilo que é público, com gastos de até três vezes mais ao erário. Como é possível que a população ganhe com esse tipo de coisa?
Neste diapasão, tem sido linda a luta dos servidores públicos da Saúde de Mato Grosso em defesa do SUS. Junto a nós, usuários e todos aqueles que entendem que a Saúde é um dos direitos mais essenciais ao homem, e que deve ser 100% pública, para que a ganância da iniciativa privada não prejudique o acesso de todos a ela. A luta contra as Organizações Sociais (OSS’s) não é apenas uma questão de “vai gerir bem ou mal”, é uma posição política de quem acredita que o público deve ser respeitado e administrado com qualidade, e não entregue nas mãos daqueles que só visam lucro em detrimento do serviço.
Apesar dos bônus da luta, entristece ver algumas pessoas, inclusive colegas que trabalham na Saúde, descaracterizando o movimento, utilizando-o como trampolim político, pessoal. Infelizmente, esses “equívocos” acontecem em muitos lugares e terminam enfraquecendo e inviabilizando que a sociedade toda tenha conquistas efetivas, baseadas na união por uma só causa, que seja coletiva, e não de uma ou outra entidade ou pessoa. Isso demonstra o quanto a nossa sociedade ainda é politicamente despreparada, imatura.
Mas temos conseguido muitos avanços, independente de posturas egocêntricas e politiqueiras. O Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiente (Sisma/MT) tem vivenciado experiências grandiosas, pois a grande maioria dos que estão nessa luta o fazem pelo bem coletivo. É gratificante ver o brilho nos olhos dos servidores que dedicam todos os seus dias, há 10, 20, 30 anos ou mais ao atendimento de pessoas que dependem do SUS para continuarem vivas.
Podemos afirmar, com grande orgulho, que os cerca de 3 mil servidores públicos da saúde em Mato Grosso vestem a camisa do movimento contra as Organizações Sociais, pois sabem tudo o que isso significa. Estamos à frente, inclusive, de mobilizações feitas em outros estados, em que também há repúdio a esse sistema parasita.
Na última semana, entregamos mais de 31 mil assinaturas aos deputados estaduais, de eleitores de vários municípios de Mato Grosso, que desaprovam esse modelo, implantado às escuras em 2011. Com o empenho de todos os envolvidos nesta luta, superamos a meta para proposição de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular em apenas um mês. E mesmo entregando mais de 10 mil assinaturas que o necessário, novas assinaturas não param de chegar.
Agora é continuar a luta para que os deputados entendam que sua função é priorizar aquilo que é melhor para a população e não para os donos das Organizações Sociais. Continuemos, então, brigando por um SUS 100% público e de qualidade, que respeite o cidadão, o trate como um ser humano, porque é o que nós merecemos.
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