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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sistemas permitem que médicos sejam avaliados pelos próprios pacientes


Com três filhos, veterana das maternidades e grupos de amamentação, a funcionária pública Maria Thereza Tosta Camillo, de 38 anos, diz que pediatra bom é tão difícil de achar quanto ouro. Como o dela é ótimo, sempre que pode partilha a riqueza com os colegas e amigos e, mais recentemente com qualquer pessoa conectada à internet, pelo site Recomind.net – espécie de agenda online em que os usuários trocam contatos e avaliações sobre prestadores de serviço, como babás, mecânicos, arquitetos e, cada vez mais, sobre médicos. 
"Havia uma lista de pedidos de pediatra e obviamente eu ia indicar o meu", diz Maria
Segundo Juliano Martinez, um dos fundadores do serviço, a Agenda Recomind conta hoje com os contatos de aproximadamente 400 médicos partilhados
publicamente, de um total de 5 mil profissionais em 12 áreas. O número total é maior, pois os usuários também podem trocar indicações de maneira privada  – ou seja, podem cadastrar um contato e apenas partilhá-lo com alguns conhecidos. O Recomind foi adquirido no ano passado pela Buscapé Company, dona do site de comparações de preços, e conta hoje com 13 mil usuários ativos.
Martinez afirma que já começou a negociar parcerias com operadoras de planos de saúde para ampliar a base de dados de médicos disponível na agenda. A expectativa é chegar a 5 mil profissionais já em março.
“Nossa ideia é trazer o livro do convênio e digilitalizá-lo na plataforma. Assim, é possível saber qual é o médico mais próximo que seus amigos consultaram”, diz.Além de trocar contatos de profissionais, os usuários podem avaliá-los, num modelo semelhante ao que é usado, por exemplo, no site Netflix, que permite assistir filmes on-line. É possível dar uma nota de 1 a 5 sobre o profissional em três critérios – preço, qualidade e comprometimento. O sistema, então, faz uma média. Além disso, quem quiser pode deixar um depoimento em texto. 
Uma das maiores operadoras do Brasil, com 18,9 milhões de beneficiários – cerca de um terço do mercado brasileiro – e 109 mil médicos cooperados, a Unimed também está desenvolvendo um modelo para que seus clientes possam trocar avaliações sobre os médicos. A operadora informa ainda não ser possível saber se os comentários negativos também poderão ser postados. 
"Será possível que os clientes da Unimed recomendem médicos – podem 'curtir' – e dêem sua opinião sobre o atendimento", informa a operadora.
'Nivelar por cima'
A chance de falar bem ou mal publicamente dos médicos é perigosa, mas positiva, avalia Daniel Diógenes de Paula, ginecologista e especialista de reprodução humana de Fortaleza, que nesta semana contava com duas recomendações na Agenda Recomind. 
“Você não vai agradar 100% dos pacientes. Tem gente que não vai te recomendar mesmo e isso (a ferramenta) vai só amplificar (os comentários). E o cliente é muito passional”, diz ele. Mas ressalva: "é como as avaliações no mercado livre ou na Amazon. Você vai comprar do cara que tem 99% de avaliação positiva, e não do cara que tem um preço menor mas tem 49%”, diz o médico. “Abre um leque para um maior nivelamento (dos profissionais) em termos de qualidade.”
Fundador do norte-americano Rate MDs – site dedicado exclusivamente à divulgação de avaliações de pacientes sobre a forma como foram atendidos por seus médicos, e que já publicou 1,5 milhão de comentários desde 2004 –, John Swapceinski, diz que a maior parte do "feedback" que recebe dos médicos é negativa, embora o serviço nunca tenha sido processado.
"Mas o ("feedback") dos clientes, que é a nossa preocupação real, é sobretudo positiva", diz ele.
Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e professor de bioética da Faculdade de Medicina da USP, Reinaldo Ayer demonstra preocupação com o cenário. 
“A melhor propaganda do médico é o seu paciente. E, ao que parece, eles estão usando a internet para fazer isso, e é complicado”, diz.
Além disso, a possibilidade de que o sistema seja usado como instrumento de propaganda abusiva pelos profissionais de saúde também chamou a atenção dos órgãos de classe. O Conselho Federal de Medicina (CFM) informou, por meio de nota, que irá avaliar o caso em sua próxima reunião, em abril. Uma resolução de 2011 do órgão sobre publicidade médica proíbe a divulgação, pelos médicos, de endereço e telefone de consultório na imprensa ou nas redes sociais.
Segundo Ayer, do Cremesp, não é recomendável que os profissionais aproveitem as redes como a Recomind para se autopromover – seja diretamente ou indiretamente, pedindo por exemplo a um amigo ou parente para "curti-lo".
"Seria condenável, não seria ético um indivíduo usar de um subterfúgio, como um nome falso ou pedir a um amigo seu 'manda lá para aquele site dizendo que eu sou bom'", afirma. "Não é ético do ponto de vista do médico. É pouco provável que isso ocorra. Eu acredito na honestidade, mas a possibilidade existe."




http://economia.ig.com.br/2013-02-28/sistemas-permitem-que-medicos-sejam-avaliados-pelos-proprios-pacientes.html

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